Vai passar

Do nada deu uma bagunçada, né? Na rotina, nas prioridades, nos hábitos. De repente a gente já não podia ver ninguém – que não fosse do nosso lar. Sem presença física, sem os olhares que vez ou outra nos confortavam em momento difíceis, sem abraços, beijos então, nem pensar. Do nada a gente não podia mais aglomerar. Logo a gente, que ama uma reuniãozinha que seja só pra poder bater papo e dar umas risadas pra esquecer da realidade – muitas vezes não tão boa. 

Não sei aí, mas aqui os pinos bateram. Foram algumas semanas de blecaute, não existia força pra sair do lugar. Eram textos e textos pra ler, textos e textos pra entregar, que formaram uma pilha e parecia não ter mais condições de colocar-se em dia. Se estava complicado arrumar as coisas por dentro, imagina aquelas que se materializavam fora. 

Vez ou outra um memezinho aqui e ali pra enganar o cérebro e fingir que estava tudo bem, mas as mensagens continuavam todas com aquele pontinho azul, lembrando que precisavam ser respondidas – não era por mal, mas estava difícil manter qualquer tipo de interação, sabe? O diálogo teria que ser interno primeiro.  A gente que vive de análise, começa a observar, calcular, questionar, duvidar – da capacidade, competência e segurança que imaginava ter. Não consegue por estar mal e fica mal por não conseguir, é um ciclo sem fim. 

As notícias, os comentários na contramão da sensatez, os julgamentos e as cobranças também não colaboram. A terapia se torna uma sessão de desague dos olhos – ainda bem que ainda existe acesso a ela. Daí o tempo vai passando, as ideias vão clareando, as palavras, os abraços e aconchegos (virtuais), as conversas, tudo vai tornando mais fácil. As pessoas que estavam ali há anos, quiçá décadas, continuam ali – sempre foi assim né? Ainda bem. Vai passar.

Nayara Caroline Rosolen

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