Conto de Natal: Palavras e Melodias (Parte Final)

(Leia a parte 4)

Quando o despertador tocou as 10h, Augusto demorou a acreditar que a noite anterior realmente tinha acontecido. Fechou os olhos três vezes, passou as mãos pelo rosto e repassou todas as cenas em sua mente. Se despedir tinha sido difícil. Era realmente muito bom para acreditar que aquilo poderia se repetir algum dia. Mais difícil ainda era não saber se em algum momento se veriam novamente. Ao passar pela recepção enquanto ia devolver as chaves do restaurante, a dona do Hostel o chamou. 

– Deixaram isso para você hoje de manhã. – disse lhe entregando um envelope. O garoto abriu com toda a ansiedade que tinha dentro de si, achando que poderia ser algo de sua família. 

“Obrigada por me mostrar a verdadeira magia do Natal. Minha passagem pela cidade não seria tão especial esse encontro que as vida nos proporcionou. Quero fique com isso e nunca se esqueça: quando olhar o céu, a estrela mais brilhante será a luz que colocou na minha vida, mesmo que em poucas horas.” 

Remexeu no fundo do pacote e puxou consigo um colar com uma pequena estrela. O mesmo que ela usou na noite anterior. No final do papel dizia: 

“Voltarei para buscar – Você e o colar. Com amor, A.”

– E como vocês conversavam vovô? – perguntou sua neta

– Não mantivemos contato por um bom tempo. – coçou o queixo pensativo

– Mas como assim? Nem uma mensagem por WhatsApp? – Disse retrucando e toda a família toda riu novamente.

– Naquela época não existia a facilidade que hoje se tem com as tecnologias. Eu não tinha seu endereço e ela não enviou nenhuma carta. – deu com os ombros um pouco cansado

– Mas vovô… – levantou a garota agitada andando pela sala – Vocês foram casados 38 anos. Nos contos de fadas como o de vocês, o príncipe… – apontou para o avô em uma fotografia – conhece a princesa – apontando para a avó que estava ao lado do marido na foto – eles se apaixonam e nunca mais se largam, são felizes para sempre. – suspirou e rodou dançando. Todo mundo ria ainda mais.

– Isso aconteceu – assentiu o avô – mas só no verão seguinte.

– Como foi que vocês se reencontraram? – perguntou mais calma levantando a sobrancelha e se aproximando novamente.

– Eu fui convidado para tocar em uma livraria, no lançamento de um livro. Mesmo que eu não tivesse muita experiência nesses eventos, os contratantes disseram que a autora tinha me ouvido tocar uma vez e fazia questão que eu fosse.

– A vovó… – interrompeu um dos garotos e ele concordou.

– Vocês conversaram?

– Nos casamos na semana seguinte. – respondeu com firmeza.

– Ohhhhh – todos fizeram um coro de surpresa.

– Vocês não tiveram medo de se arrependerem, papai? – perguntou a filha mais nova com seu filho recém nascido no colo.

– Na hora não. Estávamos extasiados com nossos sentimentos. Talvez depois tenha batido um receio. Mas no ano seguinte, quando me vi pegando pela primeira vez a sua irmã mais velha no colo, assim como você segura seu filho agora, tive certeza de que ela era a mulher da minha vida e com ela construiria toda a minha família. – ele apontou com a mão para eles – E eu estava certo. – sorriu sentindo seus olhos umedecerem.

Nesse momento nada mais precisava ser dito. Todos tinham entendido o verdadeiro significado de toda a magia que existia no natal: o amor. Um abraço coletivo foi dado e assim todos começaram a se preparar para a ceia, que estava há quinze minutos de acontecer.

Seu Augusto limpou as lágrimas, fechou seu velho amigo piano e estava prestes a entrar na cozinha quando viu pendurada aquela estrela que brilhava como se fosse a primeira vez que a vira. Andou devagar até a estante, pegou o colar e ficou olhando para o objeto na palma de sua mão. Ao virar a cabeça para a janela, viu no céu o ponto mais brilhante no mesmo lugar de sempre. Sentiu uma saudade boa atacar seu peito, mas dessa vez não veio nenhuma lágrima. Fechou o colar em sua mão e o guardou no bolso. Essa noite, mais do que nunca, queria senti-la com ele.

Olhou para o céu mais uma vez e, sabendo que onde quer que estivesse sempre estaria ali, deu uma piscada e sorriu com amor.

Fim

Nayara Caroline Rosolen

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